21/06/10

"Dançar até ser dia"

Parece haver algo de fundamental na música e no canto.
Ambos nos fazem elevar emocionalmente de um modo que raramente acontece com mera palavras.
Desde tempos imemoriais que os compositores reconheceram que conseguem agitar as nossas emoções pelo modo como ordenam as sequências de sons musicais, provocando aqui uma sensação de alegria, ali uma de desespero, ou excitando-nos com ritmos que põem os pés a bater. Tem sido inevitavelmente discutido se essa manipulação emocional é específica da cultura ou não.
Será que os tons elevados deixam os humanos alegres e os tons mais baixos os deixam a todos em desespero? Será que o modo maior eleva as nossas esperanças e que o modo menor as desencoraja? Será que a música rápida nos faz sentir excitados e estimulados e que a música lenta nos faz sentir langorosos?
Ou isso são associações que aprendemos a fazer a partir dos últimos doze séculos de música ocidental?
(...)
O facto de reagirmos emocionalmente à música desse modo e de sermos emocionalmente propensos a fazê-lo quando estamos em grupo parece ser uma notável característica universal da natureza humana?
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De facto, a profunda agitação emocional provocada pela música sugere que esta tem origens muito antigas, antecedendo em muito a evolução da linguagem, e isso talvez nos dê uma pista para a resposta à pergunta sobre o papel da música na nossa história evolutiva.
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O canto é uma forma de actividade vocal que se presta a servir vários fins e a usar duplamente o tempo. (...) O canto desperta emoções e une os membros do grupo enquanto eles estão envolvidos numa outra actividade que impede formas mais íntimas de contacto. Claro que cantar também ajuda a passar o tempo e torna uma tarefa dura mais suportável. (...) O canto em grupo desencadeia a libertação de endorfinas e é isso que faz o trabalho parecer mais leve.
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As canções instrumentais e as puras tonalidade dos instrumentos musicais produzem o mesmo efeito das letras mais entusiasmantes.
(...)
Muito cedo o canto se uniu à dança. Aparentemente respondemos com especial entusiasmo ao carácter rítmico da dança, e a dança é, claro, amplamente usada em rituais tanto das sociedades tradicionais como das religiões avançadas.

DUNBAR, Robin "A História do Homem - uma nova história da evolução da humanidade"
Quetzal Editores - Lisboa 2006

1 comentário:

G* disse...

Apesar de alguns "erros" do autor, este texto muito rico e diz muito sobre o nosso ser!

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